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POR PEDRO DIAS - Em Esperança/PB, na Avenida Manoel Rodrigues de Oliveira, precisamente bem de frente ao antigo bar e sorveteria do Seu Dedé, havia um dos mais antigos prédios da cidade, com fachada estilo neoclássica, com duas portas laterais de grades de ferro fixas, e uma central, para acesso. Fachada esta, com linhas paralelas e traçados outros, dando uma nítida demonstração de que deveria se perpetuar no tempo por ser de propriedade pública, arquitetura diferenciada e conhecida por todos como “O Açougue Público”.
1932.......................................
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SD O início da feira em "T" visto da torre da igreja Matriz.
FONTE: Esperança de Ouro. TRATO: Evaldo Brasil.
Esse prédio, que era vazado com saída para a rua onde hoje encontramos o Mercado Público, assemelhava-se a uma galeria com boxes e “tarimbas” laterais para suspensão de carnes, com corredor central, e dividia-se ao longo do seu comprimento em duas partes como se fossem dois grandes vagões de trem. Havia na parte mediana pequenos boxes onde eram servidos o café da manhã com bolos de milho, de mandioca, de macaxeira e “pé de moleque” aos açougueiros e frequentadores habituais. Na primeira parte, pela entrada da Rua Manuel Rodrigues até o meio, ficavam os marchantes que praticavam o comércio da carne bovina fresca e/ou seca; na segunda, os açougueiros que cortavam as carnes de caprinos, ovinos, suínos e vendiam as buchadas e os miúdos desses animais.
Ali, no sábado pela manhã, o movimento era intenso. Parte daqueles comerciantes já tinha seus clientes certos para quem pesava as suas encomendas de carne, fígado ou quarto de bode e as alçavam numa “embira” de folha de bananeira seca e, assim, pendurados nos dedos, eram levados pelos fregueses até a casa. Pela manhã, no clímax da feira, aglomeravam-se aqui e ali e por certo tempo, alguns dos comerciantes do setor açougueiro, criadores, pequenos fazendeiros, ou os ditos “marchantes” cortadores de carne naquelas “tarimbas”, a exemplo de Seu Tiano, Seu Elísio Brandão, Seu Chico Emiliano (pai), Chico Emiliano (filho), Seu Chico Clementino, Cíço de Luca, Luziete, Pedro Fires e outros, para discutirem sobre a procedência e os acertos de compra e venda das suas crias.
À época, a feira ainda era realizada naquela avenida, entrando um pouco para a Rua do Irineu, onde predominava a feira da rapadura, que se limitava frente à tipografia do nosso saudoso Antônio Batista, onde trabalhava, também, o inesquecível Manú.
Na esquina da Rua do Irineu, no início da “Chã da Bala”, a feira começava, de um lado, com bancos de carne de sol, miúdos de boi e de bode secos, figo seco, toucinhos, peixes secos, queijos e outras especiarias; e do outro, na esquina da bodega de Benício, com sacarias de feijão, fava, milho e farinha - eram os feijoeiros - como Seu Justino, pai de Zé Luiz, Bastão Pigarro, e outros; prolongando-se até à esquina da Rua do Sertão, e, dali, frente a loja do Seu Lita, de ambos os lados, iniciava-se a feira dos bancos dos mascates, onde eram expostos à venda os variados rolos e cortes de tecidos de linho, tergal, tropical, casimira, chitas, roupas de carregação, cujos bancos pertenciam aos senhores Gordurinha, Chico Venâncio, Eugênio, Seu Dorgival Costa e outros.
Os bancos de sapatos, traseiros, sandálias, e outros manufaturados das sapatarias, também enfileiravam aquela artéria, e se estendiam até a esquina da antiga prefeitura. Aliás, a feira tinha o formato de um grande “T”, haja vista a sua penetração direcionada para a Rua do Sertão, estendendo-se até o início da balaustrada onde, dos dois lados da rua, encontravam-se além de outras novidades, frutas legumes e verduras, sem ficarem esquecidas as tradicionais, famosas e bem solicitadas barracas de “geladas” que eram servidas e acompanhadas do pão doce.
Passados os anos, não sabemos o motivo porquê desalojaram o “Açougue” que ficou por um período fechado, até que foi alugado para instalação de uma serraria/movelaria ao Seu Sebastião, moveleiro pai de um dos nossos colegas, o Sadi, durante alguns anos.
A partir daí não mais soube do desfecho dessa história do “Açougue”! A exemplo da “Pracinha” Getúlio Vargas, “Personae non gratae”, talvez gestores públicos, também sem memória, tenham ordenado a sua venda e/ou demolição.
Doravante, com a palavra o jovem poeta e escritor Rau Ferreira, aliado ao nobre jornalista, professor, poeta, cordelista, ativista e historiador Evaldo Brasil que na sua recém-criação do “Art Déco”, postam e denunciam acerca dos prédios com essas características e que foram, criminosamente, negociados ou demolidos para serem vistos e lembrados como jazigos de “Sombrias e Revoltosas Lembranças”, em detrimento do resgate da história e do memorial da nossa terra.
*O autor é esperancense e vive na Capital, João Pessoa/PB.